Bom... a náusea ainda não passou.
Adoro surpresas no Oscar. Mesmo! Adrien Brody passando a perna em Jack Nicholson e Daniel Day-Lewis! Anna Paquin de queixo caído levando o Oscar! O então desconhecido Billy Bob Thornton roubando prêmio de roteiro do Paciente Inglês! Até Shakespeare in Love derrotando o conservador Spielberg deu pra engolir! Mas tudo tem limite! Ah quer dizer, "limite" não! No Limite não!
Nas minhas previsões pré-Oscar, de quem seria indicado, eu sequer incluí Crash entre os cinco de melhor filme. Foi burrice, eu sei, já que o boca-a-boca em torno do filme já andava forte. Mas era só lembrar de quantos outros candidatos mereciam muito mais a vaga – para citar os mais gritantes, O Jardineiro Fiel, Marcas da Violência, Flores Partidas e até King Kong!
Mas já deveria saber... Faz tempo que a prioridade do Oscar não é qualidade. Campanhas de marketing que beiram a estupidez, um lobby que usa desculpas das mais furadas pra justificar uma premiação (do tipo "ah o cara teve um infarto durante o filme", "fulano foi fotografado com outra pinta duas semanas depois se separar"). That’s Hollywood baby...
Vi Crash lá em julho de 2005. Depois vi de novo, uma semana antes do Oscar. A opinião não mudou em nada. É um filme ultraamericano. Rançoso. Chato. E o pior, pretensioso. Vou repetir o que sempre digo: nada pior do que um filme que "se acha". Paul Haggis, meu filho: lição de moral não se impõe! Sutileza e sensibilidade na hora de contar uma história, por mais deprê que seja, vai fazer descer mais redondinho... Aqueles personagens de Ludacris e Larenz Tate beiram o insuportável! Quem agüenta aquele blá-blá-blá de racismo ainda? Nem com Spike Lee funciona mais! Gosto, por exemplo, dos personagens de Thandie Newton, Terrence Howard e Matt Dillon. Ali pelo menos se enxerga um pingo de humanidade. Mas o saldo – por favor – não compensa. Um cursinho intensivo com Paul Thomas Anderson ou Robert Altman também cairia muito bem – só mestres como eles sabem fazer poesia da miséria humana (vide Magnolia e Short Cuts, por exemplo).

(charge espertíssima do Lorde Lobo, publicada no Agora)

E olha que até agora sequer mencionei Brokeback Mountain. O fator decepção/irritação/frustração é duplo. Não só Crash é o mais fraco entre os indicados, como passou por cima um filme que faz o inverso e dá uma aula de sensibilidade e competência cinematográfica.
Covardia? Homofobia? Antipatia? Alucinação coletiva? Todas as anteriores. Também não tem como entender o que faz dar-se o prêmio de melhor diretor para um e de melhor filme para outro. Pobre Ang Lee! Em 1995, Razão e Sensibilidade concorreu a filme e ele sequer foi indicado; e em 2000, levou o Globo de Ouro e o DGA mas não o Oscar por O Tigre e o Dragão.
Ah cansei... possivelmente daqui a algumas semanas nem dê mais muita importância a essa discussão, e ache até normal esse resultado. Mas que dá vontade de boicotar o ano que vem, isso dá. Mas... como Ennis diz pro Jack em certa altura do filme... "I wish I knew how to quit you".

Da lista de previsões publicadas aqui na véspera da cerimônia, o resultado foi ok, levando em conta a absoluta falta de imaginação da Academia, que premiou praticamente todos os favoritos nas suas respectivas categorias. Errei em filme (óbvio), fotografia (claro, o único filme que não consegui ver em Porto Alegre levou 3 Oscars! L), canção (a do cafetão era a segunda opção) e os curta-metragens (chutes totalmente furados).

Só mais dois comentários sobre a edição 2006.
Adorei Jon Stewart como apresentador. Na verdade, até hoje o único que não gostei realmente foi David Letterman (94). Mas Jon tem um humor cínico que me agradou bastante, piadinhas ótimas e sem qualquer medo de ferir os egos. Pode muito bem emplacar mais algumas edições.
E não tem explicação a falta de respeito da Rede Globo de Televisão. Não sei realmente o que se passa na cabeça dos responsáveis. Eles acham que ouvir uma chamadinha no meio do Big Brother que "já saíram outros prêmios" é o suficiente? Me poupe! Que saudade de Silvio Santos! Mesmo com Analice Nicolau a tiracolo, pelo menos pode-se assistir a cerimônia do inicio ao fim. Em tempo: assisti pela TNT, com comentários do tio Rubens que, se não foi o ideal (daria um rim por uma tecla SAP nessas horas), pelo menos tive até uma hora de tapete vermelho.

Então é isso.... se duvidar daqui a algumas semanas/meses já estarei postando por aqui alguns chutes para o Oscar 2007!
Té+